Não nascemos para ser metade

Hoje eu estava limpando algumas conversas de whatsapp, como de costume, e acabei lendo um trecho de uma das conversas que falava exatamente sobre isso: nossa metade! E foi esse o motivo que me trouxe aqui, pra compartilhar com vocês um pensamento sobre isso.
Às vezes passamos tanto tempo tempo buscando alguém que nos complete, alguém capaz de suprir nossas carências, de preencher certos vazios que sentimos, que nem paramos pra pensar direito sobre isso! Certos "vazios" da alma doem e gritam tanto dentro de nós, que queremos preenchê-los, a todo custo, o mais rápido possível!
Nosso anseio de sermos amados por alguém invade nosso coração; o desejo de completude fala mais alto em nossa alma e a busca por uma metade perfeita começa! Passamos a idealizar alguém com qualidades que possam nos completar e suprir todas as nossas faltas, necessidades, insuficiências. Daí buscamos incessantemente, em cada rosto, um sinal de compatibilidade. Ficamos alertas à cada pequeno gesto de interesse, de possível afeto, de aceitação. Cada olhar que esboçar qualquer traço de ternura já nos enche de esperança; cada sorriso que puder demonstrar minimamente afeição pode ser o bastante para acreditarmos que ali pode estar a metade que nos falta! Buscamos no outro o que falta em nós.
Isso faz certo sentido, tendo em vista que somos seres sociais, que aprendemos com o outro, evoluímos com o outro, que temos sentimento pelo outro... mas nós nos esquecemos (ou, talvez, não tenhamos aprendido) que, antes de estar bem a dois, é preciso fazê-lo sozinho! Antes de ser feliz a dois, é preciso ser feliz sozinho!
Parece estranho, mas a verdade é que ninguém completa ninguém, sabe?! Se alguém se sente incompleto é porque falta algo nele; falta algo dentro dele, e nunca ninguém vai conseguir suprir essa falta. Por quê? Bem, por exemplo, o que vem das pessoas não faz parte de mim, é apenas algo que me agrega, é algo que vem "de fora pra dentro"; já o que falta em mim é algo meu, uma pecinha com encaixe único que faria parte da "engrenagem" que faz de mim quem sou, então é algo "de dentro pra fora"... é exatamente o contrário do que as pessoas podem ter pra nos oferecer! O que vem fora jamais será suficiente, pois pertence a outra engrenagem, que tem seus próprios encaixes, únicos.
Quando uso a metáfora da engrenagem e seus encaixes únicos, me refiro que cada pessoa é única! Cada um de nós traz consigo vivências, experiências, lembranças, sentimentos, emoções, percepção sobre as coisas, um olhar sobre a vida... cada um tem seu próprio entendimento sobre sua vida e sobre si mesmo; sendo, um indivíduo único!
Por isso não concordo com o negócio das metades... porque, se cada pessoa é única, como poderia outra pessoa completar alguém? Seria impossível!
Não devemos procurar metades. Quem é meio, está perdido de si, e vai passar a vida toda procurando o que lhe falta... não podemos ser pela metade e nem esperar uma metade que nos complete, porque isso nunca vai acontecer! E, sabe por quê? Porque tudo o que precisamos está dentro de nós! Toda a falta que sentimos, a sensação de vazio só vão ser preenchido com as coisas que existem dentro de nós.
Aí você pode me perguntar: se o que me falta já está dentro de mim, porque eu ainda me sinto incompleto? A resposta é simples! Porque nem sempre nós aprendemos a valorizar o que sentimos, a dar importância para coisas que são peças fundamentais na construção de quem somos; então, vamos deixando essas "pecinhas" de lado e elas vão se perdendo na nossa bagunça interna, em meio às peças que vamos pegando de outras pessoas pra tentar encaixar no lugar das nossas... contraditório, né?! Mas é o que fazemos, frequentemente!
Antes de procurar alguém que nos complete, precisamos arrumar essa "baguncinha" interna, nossas emoções, nossos sentimento, nossa percepção da vida e de quem somos; porque só assim conseguiremos encontrar as "pecinhas" que precisamos para completar nossa "engrenagem" e sermos, então, inteiros!
Quem é meio está incompleto, e passará a vida inteira buscando sua metade... E nós nunca bastaremos. Do mesmo modo, se formos metade, passaremos a vida inteira buscando nossa completude e ninguém nos bastará.... E será assim até que se entenda que cada um completa seu próprio ser e seu próprio mundo e, por mais que alguém queira ou tente, nunca conseguirá completar o outro ou o mundo dele...
Precisamos ser inteiros e nos abrirmos para conhecer outro alguém inteiro, que venha completo, para somar conosco e então criar um universo juntos, inteiro e compartilhado! E, compartilhando, aprenderemos mais sobre nós mesmos e a cada vez que faltar uma pecinha em nossa engrenagem, seremos capazes de nos completar! Afinal, a vida é um eterno aprendizado e, nós, metamorfoses constantes, que temos o outro como caminho de evolução!
Seja inteiro, complete seu mundo e some com outros mundos.... assim construirá universos inteiros!
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