Interpretando a canção - Tempo Perdido (Legião Urbana)


Se sabemos que a vida é finita e curta, por que acabamos fazendo tantas coisas que não gostamos e gostamos de tantas coisas que não fazemos? Seria isso tempo perdido?

Hoje trazemos uma novidade pra você!!! 

Abrindo a sessão musical no Blog Somando Laços, trazemos hoje a interpretação da música Tempo Perdido que, compõe o álbum "Dois", de Legião Urbana e, particularmente, é uma de minhas canções preferidas!

Tempo Perdido, para nós, é uma canção muito especial, incrível, capaz de atravessar gerações, parecendo se encaixar em diversos momentos de nossas vidas... é atemporal!

Poderíamos passar horas falando sobre ela, analisando e buscando significados em cada detalhe de sua letra; mas focaremos apenas nos significados mais explícitos, os mais claros e de mais fácil entendimento!

Tempo Perdido, para muitos, é uma canção pós ditadura, refletindo todos os sentimentos deixados por este período repressor na juventude que ansiava por liberdade. Contudo, para mim esta letra vai muito mais fundo que isso e, por este motivo, esta análise é bastante pessoal, uma vez que a canção me remete à uma crítica ao nosso modo de viver e a percepção do impacto que ele gera em nós.

Já no início da música, Renato Russo trava um diálogo expondo de forma bastante literal o tempo perdido. Aqui, expondo de forma clara que todo o tempo já vivido ficou no passado e, portante, não o possuímos mais. Mas, ainda assim, temos todo o tempo do mundo, o tempo que há de vir, o futuro que nos aguarda. E é uma estrofe bem interessante: quando ele usa "todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou", pensando de uma maneira mais profunda e simbólica, o "dormir" pode nos remeter ao tempo em que ficamos inertes, alienados sobre nossa própria vida: esquecemos nossos desejos, nossos anseios, coisas importantes para nós e que nos fazem felizes para viver no piloto automático, apenas deixando o tempo passar, sem nada produzir ou fazer, quase como que se estivéssemos em uma vida adormecida, onde apenas esperamos que o destino faça de nós o que julgar válido! Mas, ainda tem consciência de que esse não precisa ser nosso destino; porque, apesar de não termos condições de mudar nosso passado e reaver o tempo que já passou, nos versos "Mas temos muito tempo, temos todo o tempo do mundo", expõe a condição de que ainda há muito para se viver, que o futuro e o mundo ainda estão a nossa espera... ainda é possível mudar!

Depois, na segunda estrofe, Renato Russo ainda se utiliza desse "dormir", ao dizer "Todos os dias antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia. Sempre em frente, não temos tempo a perder". Quando dormimos, deixamos de perceber o tempo que passa, é como se não estivéssemos conectados em nossa realidade. E, nessa estrofe, mostra-se o despertar da consciência sobre a vida, entendendo que que o tempo passou e continuará passando; não há como pará-lo. Mas há muito o que se fazer: entender o passar da vida e, com ela, as coisas importantes e que realmente nos importam e as coisas que não nos fazem bem, ou, o que precisamos melhorar, aprimorar, reinventar em nós para que possamos seguir a vida da melhor maneira possível, conforme desejamos; afinal, ela continua seguindo e, o tempo que se vai, não retorna mais! Então, é preciso despertar a consciência e trabalhar a mudança tão sonhada!

Na terceira estrofe, "Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo e tão sério... E selvagem... e selvagem... e selvagem!" me parece que a reflexão é acerca do trabalho, do esforço de cada dia, do tempo que se esgota enquanto lutamos para ganhar o pão, o sustento tão necessário e que, muitas vezes, nos consome por inteiro, tirando e roubando nosso tempo, nossa vida, quase como uma escravidão consentida, onde temos que abandonar cada vez mais nossa vida pessoal, nossos sonhos, a própria felicidade para, muitas vezes, obter apenas o mínimo necessário. Expõe aqui a realidade de uma sociedade que "adormece" pela necessidade, em um sistema desumano, tiranos, de leis que sugam cada gota do sangue, da vida e, muitas vezes, da dignidade de cada um de nós, onde poucos se beneficiam, às custas do tempo que outros perdem... O trabalho é digno; mas vale a pena quando nos rouba o tempo (a vida)?

"Veja o sol dessa manhã tão cinza... a tempestade que chega é da cor dos teus olhos, castanhos." Aqui, anuncia as dificuldades que estão por vir, tristezas, sofrimentos, barreiras a ultrapassar... De certa forma, tempestades nos roubam parte do tempo quando nos impedem de sair pelo perigo que trazem consigo. Assim, também, são alguns problemas: quando não há muito o que fazer, é preciso esperar, aguardar que o tempo passe, que as coisas aconteçam até vermos se "a tempestade" é realmente perigosa ou é possível enfrentá-la.

Mas na sequência, os versos "Então me abraça forte, me diz mais uma vez que já estamos distante de tudo. Temos nosso próprio tempo. Temos nosso próprio tempo. Temos nossos próprio tempo!", me parece que é colocado a necessidade do outro, a importância de termo em quem confiar e nos refugiarmos. O estar junto, enfrentando uma tempestade ao relento é sinônimo, na grande maioria das vezes, de chance de sobrevivência e possibilidade de enfrentar o perigo com mais força: enquanto eu me canso e fraquejo, o outro me ajuda a seguir, e o mesmo faço por ele. Aqui, o abraço representa um abrigo, a força, um "esteio emocional" que nos ajuda a suportar, porque juntos, temos mais forças para correr contra o tempo que se vai nas dificuldades, de modo a encontrar dentro de suas possibilidades uma maneira de lidar com as adversidades.

Renato Russo, ao colocar  "Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora", me parece se remeter à "noite" simbólica que ele coloca em questão na primeira e segunda estrofe. Como já dito, é como se o tempo passasse enquanto dormimos, é inevitável; mas ele sabe disso e é como se não tivesse medo de ver o tempo passar, as prefere evitar que aconteça. Então, nos remetendo à análise da primeira estrofe, o escuro seria aquela condição de inércia em que nos colocamos, apenas deixando o tempo passar sem nada fazer para melhorar o que queremos/necessitamos; mas podemos acender as luzes e continuar acordados, se quisermos, e mergulharmos no que traz a reflexão da segunda estrofe sobre o despertar da consciência sobre nos tornarmos senhores de nossa história. Quando ele diz "deixe as luzes acesas", parece pedir a uma outra pessoa, nos levando novamente a pensar na importância do "outro" nesse nosso "despertar", conforme analisado na terceira estrofe: às vezes é pesado, insuportável, quando se está sozinho e, por este motivo, precisamos do outro para nos lembrar que é preciso permanecer acordado, vigilante, seguindo em frente!

"e o que foi prometido ninguém prometeu.. Nem foi tempo perdido; somos tão jovens... tão jovens... tão jovens!" O fechamento da música é uma das partes mais interessantes. "O que foi escondido é o que se escondeu", me faz pensar no que fazemos com nossos sonhos, sentimentos, emoções nessa dança com o tempo: ao perder o tempo, adormecer a consciência, ocupar a vida com o modelo de vida exposto na terceira estrofe, colocando coisas que não nos fazem bem e nos tiram a felicidade antes das coisas que nos são realmente importantes, para suportar, tentamos justificar as tristezas, a insatisfação, a falta de motivação, o abandono pelos sonhos, e tantas outras coisas, colocando a culpa na vida e no destino... Nos obrigamos a dizer, pensar e acreditar que nossa vida está ruim porque as coisas simplesmente aconteceram de um modo diferente do que queríamos, e a felicidade, alegria, satisfação e o que havia de bom, ou, o que desejávamos, talvez não fossem para nós, e se foram de de nossa vida por conta própria... eles se esconderam, não fui eu que os escondi... nos enganamos, então! "E o que foi prometido, ninguém prometeu" Todos sonhamos com uma vida feliz, realizada com nossos sonhos, com o que nos faz bem. É a natureza humana, uma "promessa" de nossa natureza desde sempre. Mas aqui, a condição de que "ninguém prometeu" se refere, justamente, ao fato de que essa é uma promessa muito pessoal. Eu é quem tenho a obrigação de fazer essa promessa comigo e, se eu "adormecer", se eu ficar inerte dentro desse modelo de tempo perdido que a música traz, a vida que eu sonho será uma promessa sem dono e, portanto, nunca cumprida! Então, aqui, mais uma vez mostra como nós negamos a responsabilidade quemos de ter perdido tempo, de não ter aproveitado a vida como queríamos... Mas, nos versos seguintes, todo o aparente pessimismo da música se desmancha com uma solução... há aqui uma esperança e possibilidade de mudar essa condição, e uma vida inteira: ao dizer "Nem foi tempo perdido... somos tão jovens... tão jovens... tão jovens!", a visão que a música me traz dessa realidade exposta em todos os versos anteriores é que, apesar de tudo, nada do que vivenciamos é tempo perdido, por mais ruim que seja; porque sempre há algo para aprender, sempre há algo de útil, ainda que doloroso, mas que nos proporcionará crescimento, sabedoria e forças para enfrentar o futuro e seguir a vida que há de vir; porque "somos tão jovens", imaturos, inexperientes enquanto seres viventes... ainda há tanto o que aprender, o que descobrir, o experimentar do mundo, das pessoas e de nós mesmos, que cada experiência já vivida, sendo boa ou ruim, é uma preciosidade para nos ajudar a enxergar o horizonte que está adiante! A única coisa que precisamos fazer é abrirmos o coração e nos permitirmos ser aprendizes do tempo (vida)!

Tempo Perdido provoca reflexão... Quantas vezes levamos uma vida que não nos agrada? Quantos são os momentos em que "adormecemos", e desligamos a consciência sobre a necessidade de mudança? Quantas vezes apenas aceitamos passivamente, sem nem ao menos questionar, o modelo de vida que nos é imposto, empurrado goela abaixo, nos obrigando a abrir mão das coisas que realmente nos são importantes? Quantas vezes apenas assistimos, sem fazer nada, o tempo passando e a felicidade se distanciando? Quantas vezes perdemos tempo?

Cada um de nós tem, dentro de si, tantos sonhos, esperanças, um modelo de vida que deseja... e, por isso, para cada um de nós, o conceito de "tempo perdido" é diferente! Porque, somente nós sabemos o que realmente nos é importante! Então, te deixo aqui uma reflexão muito pessoal: 
- O que tem feito você perder seu tempo (vida)? E o que você está fazendo pra não deixar que seu tempo (vida) escorra de suas mãos?





Todos os direitos autorais sobre a letra da música e links de divulgação que estão nesta postagem não pertencem ao Blog Somando Laços; portanto, não são de nossa responsabilidade, sendo utilizados apenas como caráter informativo.













Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quando o encanto se vai...

Por que fazemos o que fazemos? Refletindo sobre o propósito das nossas ações.