Quando o encanto se vai...

Já se perguntou por que, às vezes, depois de conquistarmos algo que tanto desejávamos, isso perde parece perder a graça? Todo mundo já passou por isso, pelo menos, uma vez na vida. E, já se perguntou por que aquela pessoa que tanto nos encantava pareceu perder o encanto depois de a termos do nosso lado? É, principalmente, sobre esse segundo ponto que quero convidar-lhes a refletir!

É interessante observar que quando algo é seguro e certo, seja uma conquista material ou um relacionamento, acabamos perdendo o interesse. Parece que para nós, humanos, a falta de certeza se as coisas darão certo ou não é a chama do nosso interesse em mantê-las por perto, ou, de conquistá-las. Quanto menos seguro for, mais valorizamos, inclusive as relações.

Um exemplo muito fácil sobre isso é que, quando nós não precisamos nos esforçar muito para adquirir algum bem material e, caso esse venha a faltar conseguiremos outro de maneira fácil, teremos menos entusiasmo do que quando adquirirmos algo que nos custe muito tempo de economia e nos prive de certas regalias por determinado tempo. 

Mas até aqui, estamos apenas falando de situações e coisas... não que isso não seja importante; porque é sim! Essa postura é algo que sempre devemos avaliar sobre o quanto pode nos prejudicar em certos aspectos relacionados ao nosso conceito de realização. Mas a questão fica bem mais séria quando essa postura envolve as nossas relações ou nossos relacionamentos com outras pessoas... e aqui, há que se ter muita atenção!

Quando nos interessamos por alguém, seja com intenção de namoro ou amizade ou qualquer aproximação social, tudo parece ser desafiador. O fato de haver certo mistério por não conhecermos o outro, não sabermos de seus gostos, não o entender por completo e, muito menos, saber se ele "se agradaria" com nosso jeito de ser, torna a conquista muito interessante.

É importante entender que vivemos em uma sociedade muito imediatista, onde tudo tem que ser rápido, tudo tem que acontecer no agora. Quando o interesse pelo outro tem esse caráter imediatista, não há tempo suficiente em conhecê-lo realmente ou, queremos tudo de uma vez, conhecer de uma vez... aí, a graça acaba. Aqui há um perigo: mexer com os sentimentos de outra pessoa, depois desencantar-se e deixá-la com a "bagunça" feita por nós para que ela arrume sozinha! Sim, estou falando do fato de a outra pessoa se apegar, permitir que nós a conheçamos, dar-lhe abertura para permitir que entremos em sua vida quando decidimos conquistá-la... Já pensou nisso?

Não acontece somente com relacionamentos amorosos. Essas "inconstâncias" no interesse acontecem também no âmbito das amizades, já que também é uma relação próxima. Aquela pessoa que parecia incrível, que parecia ter tanto pra ensinar, que falava de coisas extremamente interessantes e de quem resolvemos nos aproximar e conquistar a amizade... ela também pode deixar de ser tudo isso se nossa postura for imediatista, se não nos propusermos a nos aprofundar mais nessa interação. Como fica esse novo amigo, depois de já ter aberto sua vida e compartilhado de si conosco se, ao perdermos o interesse, nos afastamos por estarmos concentrados em uma nova conquista? Vai sentir nossa falta? É provável que sim, se ele não tiver se aproximado da mesma maneira que nós, apenas pelo desafio. Vai ficar chateado por ter passado do posto de amigo mais interessante para o de segundo plano? Certamente! Talvez essa pessoa se pergunte o motivo pelo qual nosso comportamento mudou, talvez chegue a nos questionar, ou só siga em silêncio deixando-nos também para trás.

Mas o fato é que as relações estão ficando cada vez mais rasas, mais líquidas e mais imediatistas. Às  vezes penso que vivemos numa disputa para ver quem consegue conquistar mais pessoas em menos tempo; me parece que, mais do que a qualidade das relações que vamos formando ao longo do tempo, as pessoas valorizam a quantidade... Isso é algo que me faz refletir! E não pense que isso nunca aconteceu comigo; porque, sim, aconteceu! Já caí também em conquistas momentâneas e, com conhecimento de causa, não é algo muito agradável!

A impressão que fica é que as pessoas se esquecem que nós todos mudamos a cada momento, que dia após dia evoluímos, aprendemos, vamos nos transformado... hoje eu já não sou mais quem eu era ontem! Minhas vontades, meus gostos, minhas prioridades, meus conhecimentos, o que tenho pra oferecer e tudo mais que faz de mim quem eu sou agora, vão se modificando comigo, para que eu me torne uma nova versão, para que eu seja evolução. Então, como podemos achar que, uma vez conquistada determinada pessoa, não haverá mais nada a se conhecer dela? Como podemos nos sentir "certos" e "seguros" de que a admiração dela é nossa e que ela se "rendeu" para sempre ao nosso "jogo" de conquista? Isso é ilusão!

Se nós mudamos a cada dia, também nos descobrimos a cada dia... e isso me faz pensar que as relações são uma eterna conquista! É assim que desfrutamos dos bons momentos com as pessoas (sejam amores, família, amigos...) que temos por perto; porque o ser humano é movido pelo desejo e, portanto, conquistar é sanar o desejo de ter "algo" que ainda não é meu. Se deixarmos o imediatismo de lado e mergulharmos mais fundo nas relações e nos preocuparmos mais em realmente conhecer as pessoas ao invés de apenas conquistá-las, nossas relações serão muito mais saudáveis e felizes... e, com isso, consequentemente, nós seremos muito mais felizes e realizados!

A conquista faz parte da vida! Mas, mais importante que apenas conquistar, é conservar e cuidar de que/quem conquistamos... é investir em conhecer o outro todos os dias e, junto, ter a oportunidade de nos conhecermos também e entender que, para conquistar o outro, precisamos nos conquistar todos os dias... afinal, quem você deseja ser pode já habitar dentro de ti, e você ainda não ter entendido que esse "novo eu" está esperando ser conquistado por você! 

Pense nisso e olhe mais atentamente à maneira como você têm lidado com suas conquistas... é imediatismo? Há realmente sentimento? Ou é apenas pela satisfação de conquistar, de apenas conseguir e se desinteressar depois? Todos precisamos pensar sobre isso!

E, sim, é um texto bastante pessoal! Mas quis compartilhar com você algumas opiniões minhas sobre algo que tem me chamado atenção ultimamente! 

E aguardo sua opinião nos comentários, para somarmos!










Imagem by: Freepik

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