A caverna que criamos através do espelho
Diante de um mundo com tantos recursos tecnológicos para ajudar na comunicação ainda assim, vemos constantemente pessoas sentido-se sozinhas.
Este sentimento na verdade independe de ter certo número de amigos ou a presença de família por perto, essa solidão vem de dentro, a raiz está profunda. O não ser visto causa sentimento de solidão, e pode ser assustador.
Um fato muito interessante acontece na África, onde em uma tribo cumprimentam-se pelas seguintes falas "EU TE VEJO" e em resposta " EU ESTOU AQUI" , interessante nas falas é a necessidade de demonstrar um reconhecimento de existência, caso aconteça alguma situação adversa com alguém da tribo, essa pessoa está decretada a pena de invisibilidade; não ser visto, logo, solidão. Quando não somos mais vistos, parece que deixamos de existir, e então buscamos subterfúgios para que essa não seja uma realidade, e um deles é o espelho. A busca constante em ficar frente ao espelho - sim, de forma literal mesmo; o maior anseio é ter a imagem refletida.
Vivemos em uma era em que o espelho é a "caverna", e passamos a viver a partir do reflexo. A beleza se torna aquilo que foi gerada pelo espelho, se o medo aqui é não ser visto, o espelho é o melhor amigo para isso afinal, você nunca será esquecido por ele, pois estará sempre refletido ali, dia após dia.
Gasta-se tanto tempo frente ao espelho esperando ansiosamente uma resposta, uma aceitação, um reflexo daquilo que você gostaria de ver, ouvir e até mesmo viver.
Fuga.
O medo de perceber a sociedade, bem como a sua própria imagem e sua "obra" pertencente à essa sociedade, causa estranheza, - pior que isso é saber que assim como a sociedade, você também tem uma história, uma bagagem, e se voltar para uma sociedade que foi gerada pela convergência de pensamento, ideias, doutrinas, e modo de viver diferente dos seus, é doloroso. Então o espelho te faz ver aquilo que você quer que seja refletido, uma sociedade subjetivada e espelhada, tão lisa e rasa como o espelho e sua própria imagem.
Isso é forte eu sei, mas um grande ensinamento que Rousseau deixou, foi que "é preciso olhar o ser e não a imagem do ser" ou seja, o olho capta tudo o que está na "tela", mas, jamais o que é a tela. Uma tela não é nada mais que um apanhado de matérias, tintas e outros elementos. Uma tela pode ser o próprio artista bem como a representação da sua arte. Não se pode interpretar o outro na e pela liberdade de apenas olhar, ver, sendo assim não é o que o olho vê, mas o que ele enxerga ao ver.
Quando apenas vemos nos "apequenamos", tornando-nos incapazes de realmente enxergar, perceber. O erro não está em se olhar no espelho, mas não apenas se olhe, se enxergue nele, não apenas veja uma imagem, mas o seu ser, o mundo que você vive, veja sua história não na imagem refletida, mas no ser que está sendo refletido.
Só teremos o real conhecimento de algo ou alguém quando o notamos, por isso, a questão não está no ver, mas no enxergar.
Comentários
Postar um comentário