Tudo bem se não estiver bem!

Cada dia é diferente. Tem vezes que o dia corre bem, leve, feliz, cheio de positividade e boas surpresas. Outras vezes o dia parece não acabar nunca; parece que dá tudo errado, que todo mundo saiu de casa para dificultar nossa vida; ele fica pesado, desgastante... chega a nos sufocar.
Mas não é o dia que é bom ou ruim; é a nossa percepção dos acontecimentos! Se estamos bem, o dia caminha bem mesmo se algo der errado; se estamos emocionalmente indispostos, ainda que hajam coisas boas, as horas parecem não passar e o dia não acaba nunca...
Às vezes, por longos períodos temos dias assim, que parecem pesados, que nos castigam, nos sugam toda a vontade de fazer qualquer coisa... E, talvez, aconteça de não sabermos o motivo por estarmos assim, e nos culpamos!
Pensamentos do tipo "eu não deveria me sentir assim", ou, "não é certo me sentir mal, porque tenho uma boa vida", por exemplo, podem tomar conta de nós e a sensação de obrigação de estar bem chega a torturar.
Qual é o problema em não estar bem? Por que não nos permitir sentirmos cansados, saturados, chateados, frustrados? Claro, não são sentimentos agradáveis; mas às vezes são necessários (e naturais)! Então, por que não?
Às vezes penso que o problema não são as adversidades em si, mas sim nosso desespero em sair delas. Crescemos com modelo
s ideais de vida, de felicidade, de carreira, etc, que ficam o tempo todo ditando como devemos nos comportar, nos sentir e pensar. O tempo todo esses modelos estão presentes e cobram por uma felicidade absoluta e constante que ninguém é capaz de ter realmente. E o que acontece quando não conseguimos nos enquadrar nesse "perfeito", é uma cobrança intensa, porém encoberta, que chega sutilmente através de frases como "por que vocês está assim? Você tem um emprego bacana..", ou, "Você tem uma ótima família, não há motivos para se sentir assim..", ou, "Mas olhe a dificuldade que o fulano passa.. você tem tudo, então não reclame". E a culpa, sorrateiramente, toma conta de nós; porque aprendemos que há uma felicidade plena e que a vida tem que ser perfeita.
Acontece que isso não existe! Parece pessimismo dizer isso; mas não é! Pessimismo seria se continuássemos acreditando que vai chegar um dia em que não haverão problemas; porque esse dia não vai chegar! 
O tempo todo lidamos com coisas que não saem conforme panejamos e desejamos, o tempo todo precisamos ceder, rever prioridades, tomar decisões difíceis, lidar com conflitos com outras pessoas... Não há como fugir! Ainda que vivamos sozinhos, completamente isolados, isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, porque nós, em muito, somos movidos pela insatisfação!
Então, se assumirmos isso, poderemos pensar por outro ângulo: chegará o dia em que teremos maturidade e serenidade suficientes para passar por todos os problemas que surgirem, sem o peso da culpa. E isso sim faz sentido; porque, o que depende de mim, está ao meu alcance (ainda que demore a conseguir)!
Até lá, precisamos aprender como lidar com as situações difíceis, e não há outra maneira de aprendermos a não ser vivenciando! Precisamos experimentar como é estarmos insatisfeitos, frustrados, cansados para aprender as maneiras de "como não lidar" com os problemas; porque só assim saberemos evitar posturas que não funcionam bem para resolução de nossos conflitos.
Sendo assim, precisamos e temos o direito de não estar bem de vez em quando! Somos humanos, não somos perfeitos; então, porque sentir culpa por não estar bem?
Precisamos aprender que não interessa o que esperam de nós...  nós oferecemos o que podemos, o que temos condição e, se não for um momento feliz, tudo bem; faz parte da vida!
Então, tudo bem se não estiver bem! Insatisfação faz parte da vida, e ela não é totalmente ruim quando aprendemos a lidar com ela. Aliás, é o fato de não estarmos satisfeitos e de querermos mais  é que nos permite experimentar as coisas, conhecer mais, saber mais, vivenciar mais de algo ou alguém... é, também, o que nos faz seguir!
Talvez aprender essa nova postura não seja rápido e nem fácil, pois é um processo de mudança que pode precisar buscar raízes profundas em nós; mas, se houver a real vontade, somos capazes de conseguir! E não estou dizendo sobre conseguir ficarmos sempre bem; longe disso: iremos conseguir nos libertar dessa culpa por não estarmos bem às vezes, e da obrigação de sermos perfeitos em tudo, o tempo todo!
Afinal, está tudo bem se não estiver bem... Faz parte da vida!



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