Demonstrar não é fraqueza.

Indiferença é o que não deveríamos sentir.

Me apavora o fato de não demonstrar aquilo que sinto; seja um frio na barriga ao fazer uma descida de carro, seja o sorriso largo ao sentir o abraço de uma criança ou o choro desenfreado de algo que machucou a alma. A emoção é uma fonte inesgotável que emana dentro de nós, em uns mais, em outros menos; mas ela está sempre presente.

 A capacidade de se sentir e poder expor, é o que nos tira da areia movediça do normal, do padrão e da visão dos outros sobre nós, que nos deixa algemados. Quando foi que demonstrar o que sentimos foi transformado em culpa e medo? Em qual momento nos perdemos, ao nos privarmos de rolar as lágrimas pelo rosto, de gargalhar sem ter motivo algum, de demonstrar com palavras e ações o carinho que temos por alguém? Quem foi que disse que maquiagem é para se ESCONDER dos medos que, por vezes, nos cercam? 

Tenho percebido que, cada vez mais, estamos tentando mostrar algo pra alguém. Um filho que sofre por anos com um pai ausente e diz "eu nunca serei como ele", ou "minha mãe queria que eu fosse médico", "meu namorado (a) não gosta que eu seja assim", "fulano disse que eu sou assim". Então eu pergunto: onde está a parte em que você vai querer ser ou mudar, simplesmente porque você deseja isso? Nos importamos tanto com o que os outros pensam e esquecemos de pensar sobre nós mesmos!

Seja sincero com você e principalmente com quem você é. Não meça esforços em transbordar de felicidade ou mergulhar no mais profundo de suas lágrimas. Nada faz sentido se não estiver de alma presente.

Dividindo algo meu para agregar com vocês, confesso que muitas vezes deixei que as pessoas ditassem o que eu era e o que eu deveria ser, achando que essas pessoas estavam "cuidando" de mim, analisando de fora o que eu não conseguia enxergar... mas um dia percebi que eu estava me abandonando, me deixando levar, apenas. 

Mais vale a louça suja na pia e lembrar que aquilo foi resquício de um encontro especial com amigos, ou aquela louça toda imponente por de trás do vidro, mas que na verdade encontra-se empoeirada por não ser usada a anos?

Coragem, para entender que terá que lidar muitas vezes com o retorno ou o silêncio de ser quem você é... Coragem, para se reconhecer, com seus próprios olhos, e ver muito além do que as pessoas querem enxergar sobre ti. É preciso, sim, ser corajoso para escolher o próprio caminho e escrever a própria história... pois coragem é o que não nos deixa ser indiferentes sobre quem somos e o que sentimos; é o que nos torna únicos e sensíveis perante nossa essência.

Essa questão é tão complexa que parece ser contraditória! Ao mesmo tempo em que precisamos trilhar nosso próprio caminho, nos exergarmos com nossos próprios olhos e deixar de lado o que vêem de nós, muitas vezes, precisamos olhar para o lado e saber enxergar também o outro, com suas dificuldades,  fraquezas, com seus limites e, acima de tudo, seus pedidos de socorro. Aqui você pode questionar qual a relação que isso tem com o que estamos falando... E, acredite, são partes de um todo!

Pois bem; somos humanos, seres sociais, racionais, emocionais... nos desenvolvemos pelo outro e com o outro, através das interações. Somos capazes de entender o outro, compreender suas alegrias, tristezas, somos capazes de observar suas emoções. Mas isso só acontece quando estamos em contato com nossas próprias emoções! Daí a importância da primeira frase do início deste texto "Indiferença é o que não deveríamos sentir."

Como disse antes, somos humanos e, na vida real, não existem super heróis... Mas, ainda assim, muitas vezes as pessoas vêem em nós capacidade de ajudá-las com suas mazelas; muitas vezes exergam em nós as repostas,  como se fôssemos portadores da sabedoria e conhecimento que lhes falta naquele momento... e assim fazem de nós sua esperança. E, muitas vezes somos mesmo a única fonte de esperança de alguém (assim como, às vezes, alguém é para nós).

Não temos super poderes para mudar a realidade de ninguém, haja visto que depende de cada pessoa mudar sua vida. Mas, se estivermos em contato com nossas emoções, se mantivermos nossa essência e formos mais humanos, teremos sensibilidade suficiente para entender e perceber que precisamos ser o colo de alguém por alguns instantes... e que, talvez, precisemos também de colo em algum momento! Afinal, não evoluímos sozinhos!

Mas pra que isso tudo aconteça é preciso ter coragem para saber quem realmente somos, para mergulhar em nossas próprias emoções e encontrar nossa essência! Sem isso nos tornamos frios e cegos às belezas da liberdade do universo das emoções... não escolhemos e não nos permitimos sermos acolhidos.

Se permita sentir, deixe que as emoções aflorem. Demosntre o que sente. Demonstrar não é fraqueza! Num mundo frio, seja o primeiro a aquecer em meio as "cobertas" de sua alma!

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